Jorginhu participou no The Voice Portugal em 2020, programa no qual chegou às galas em direto, juntamente com Paloma. Três anos depois, o Jornal desacordo foi saber quais são os novos projetos do músico da Amareleja.

Como é que entraste no mundo da música?
“Eu acho que a história foi esta, eu era muito pequenino. Pelo menos é o que o meu pai conta. Estava no carro com os meus pais e estava a tocar uma coisa qualquer na rádio. E eu estava lá atrás a brincar e começo a cantar a música. E os meus pais ficaram boquiabertos. Entretanto, o meu pai fez muito esforço para eu ir para o Conservatório de Moura e fui com cinco, seis anos. Onde comecei mesmo a cantar para pessoas foi com sete anos num karaoke da escola em que ganhei. Depois tive uma banda, que se chamava Groselha.com. Íamos para os bares tocar pimba. Eu já cantava e o rapaz fazia os solos com o trombone. A malta adorava por ser diferente. Depois entraram mais pessoas para a banda.“
O que leva um alentejano a mudar-se para Lisboa?
“Eu mudei-me com 24 anos. Estava a trabalhar em Évora, não queria estar ali a vida toda. Estava a trabalhar numa fábrica, aquilo estava a ser aborrecido, o trabalho era sempre igual, trabalhava à noite e era horrível, 12 horas noturnas. E pensei que gostava de tirar uma licenciatura, mas em quê? Ou seja, todo este dinheiro que estou a angariar vou gastá-lo numa gestão, numa economia, que é horrível? Então pensei: vou tirar uma coisa que goste. E andei a pesquisar coisas que gostava, até que encontrei o curso de Sound Design da ETIC. E fiquei. Nunca pensei em voltar. Na parte artística, aqui tens muitas coisas. Lá não há nada para fazer.“
O músico começou por publicar covers no YouTube. Mais tarde, concorreu ao programa de talentos “The Voice Portugal”, em 2020:
- Prova Cega: Just the way you are
- Batalhas: Rewrite the Stars
- Tira-teimas: Lovely
- Galas em direito (top 24): Titanium
Após a sua presença no programa, Jorginhu mergulhou em novos projetos, como é o caso do anúncio musical da empresa “Swappie”.
Jorginhu é, de momento, vocalista da banda “Raska”, algo que faz desde outubro de 2019. Esta é uma das muitas bandas de baile que anima festas e romarias da zona oeste. Só neste verão, época alta destas festividades, a banda realizou cerca de 70 concertos.
Jorginhu explica também o contraste entre ser vocalista de uma banda na zona Oeste e no Alentejo.
“Lá, nós gostamos de música no geral. Criámos um Festival da Juventude, nas Festas de Santa Maria, as festas de verão de lá, passámos de uma festinha com um dueto a cantar os dias todos, para termos lá David Carreira e D.A.M.A. Tivemos cerca de 40 mil pessoas na Amareleja. Foi incrível. A diferença é que nós lá vemos o pimba [com indiferença], danças, bebes umas imperiais, não ligas bem ao que está a acontecer. Estar ali um rádio ou uma pessoa com um teclado é igual. E, de repente, vens para outro lado, e eu já tinha visto lá em baixo [nas redes sociais] a Função Publika e pensava: “eu até não me importava de fazer isto”. É um palco enorme, umas condições incríveis, muita gente em palco, arranjos super fixes, why not? Eu vi uma grande amiga minha numa banda daqui da zona [oeste] e achei muito fixe! Isto não tem nada a ver com o que se passa lá em baixo! Enquanto eu só toco quatro horas de pimba, eles tocam pimba, kizombas, reggaetons, rocks. Entretanto vim para Lisboa, recebi um convite para uma banda, entrei, e, de repente, estou a fazer o que ela fazia. Aqui, as pessoas gostam de saber quem é o novo vocalista da banda X, o baterista da banda Y. Lá em baixo não há este interesse, lá em baixo quando dizes que és cantor, dizem “ok, então e para trabalhar?”. E aqui não, aqui tu és O vocalista, O guitarrista, O baterista da banda X. Eu acho que isto já está intrínseco em vocês, como já têm este tipo de bandas há muito tempo, mas, de repente, tinha gente a vir ter comigo e dizer, “Mas tu és o vocalista da banda Raska? Uau, tu és incrível!”. É essa a diferença. O público daqui tem muito mais amor pelo que estamos a fazer em palco do que a malta lá de baixo. Muito mais.“
Como lidas com o contraste entre estares quatro horas a ser o centro das atenções, toda aquela adrenalina, admiradores, fotos, e quando acaba tens de ir para casa de madrugada, sozinho, quando ainda está escuro?
“Portanto, eu comecei a pisar palcos desde os sete anos, profissionalmente a partir dos 13. E sempre foi o Jorge Ferreira que foi para cima do palco, que é um rapaz introvertido, calmo, na dele. Nas Festas de Santa Maria, tenho de ir para palco, abrir para Calema e David Carreira e, de repente, tinha 35 mil pessoas a ouvir-me e eu fiquei “como é que eu agora vou cantar baladinhas para 35 mil pessoas?”. Tive um clique e pensei “vou criar um espetáculo”. Repara, não tens de ser um grande cantor, tens de ser um entertainer. Tens de entregar energia ao público para eles te entregarem essa energia a ti. Decidi fazer um espetáculo onde eu não canto propriamente, tanto que eu cantei Mundo Secreto. E a malta adorou! E eu percebi, “ok, isto funciona”. E assim que saía do palco eram cinco minutos sem falar com ninguém e, de repente, tinha pessoas que não conhecia de lado nenhum a querer tirar fotos comigo. Naquela altura, eu criei o Jorginhu. Quando vou para palco, sou o Jorginhu. E agora tenho de vestir a personagem mais cedo e despi-la mais tarde, porque assim que chego a uma terra tenho malta a querer estar comigo. Em suma, como eu sou introvertido, adoro fazer as viagens à noite, estou sozinho, no carro, de noite, não está ninguém na estrada, estou tranquilo, na minha, ouço uma música baixinha e vou recarregando as energias que gastei.“
Qual foi a tua melhor experiência na tour deste ano?
Houve uma vez que me deitei no palco a cantar. Gostei porque me senti à vontade para fazer o que quisesse. Nesse dia, eu pensei “quero aproveitar este palco enorme, onde a distância para o chão é muito grande e eu quero aproveitar de alguma forma”. Então fiz aquilo.
Os músicos, de forma geral, também trabalham um instrumento, que não é palpável, mas também conta: a voz. No mês de agosto, foram realizados 22 concertos, num mês de 31 dias. Como será possível cantar durante tanto tempo e, por vezes, dando concertos durante vários dias seguidos?
“Tenho um nebulizador, que é feito com soro. Transforma o líquido em vapor e é usado para hidratar, antes e relaxar, depois, as cordas vocais. Não há grande coisa, na verdade, é principalmente dormir, mínimo oito horas, e muita água. Eu já fiz tudo, aqueles comprimidos, homeovox, chá, nada resulta. Comigo, é isto que funciona.“
Contudo, esta não é a única ocupação do músico. Está a trabalhar como técnico de som no Teatro Independente de Oeiras e também numa transportadora. Além disso, tem o sexto ano de formação musical e toca guitarra, baixo, piano e bateria.
“Eu comecei a tocar bateria na banda filarmónica. Aliás, eu nunca na vida achei que fosse para a banda, só que praticamente todos os músicos da Amareleja com quem eu tinha estado a estudar diziam “tu tens de ir para a banda”. E eu dizia: “mas eu não quero ir para a banda”. “Mas nós estamos a precisar de pessoas!”. E eu “Está bem, eu toquei piano, querem que vá fazer o quê?”. O meu primo tocava bateria lá e ele ia sair. “Era fixe [que viesses substituí-lo]”. E eu ok. Tive uma aulinha ou duas de bateria…eu não sei como é que faço as coisas… eu não te sei explicar porque eu não tive método. Eu cheguei à bateria, tinha noções de ver como se tocava, cheguei lá e fiz. “Ah, é só isto”. A malta dizia “Já tocas há muito tempo!” e eu “Não, eu comecei hoje!” (risos).“
Em junho, Jorginhu lançou o seu primeiro single, “Just Friends”. A produção ficou a cargo de Soulwave, o beatmaker que produziu “Solteiros”, de Deejay Telio e Yasmine. Esta música conta a história de uma relação de “amizade”, em que há algo mais.
O que têm dito do teu primeiro single?
“(Risos) eu já sabia que as reações não iam ser as mais amigáveis: ninguém está à espera que o teu primeiro single seja uma coisa tão brusca. As reações foram boas em relação a música, especialmente das pessoas que gostam de R&B. Houve malta a dizer que era muito R&B dos anos 2000, o que é fixe, porque é quando o R&B estava bom, e houve malta que ficou “Isto é um bocado pornográfico, não é?” . Não é. Tem sensualidade? Tem. E, ao contrário do que as pessoas acham, não se passou nada [com a modelo do videoclipe].
As suas músicas são como narrativas: contam uma história. Sabemos que o próximo single do artista, “Diz Sim”, será lançado ainda este ano. No passado dia 7 de outubro, no programa Etnias (SIC), Jorginhu cantou a sua nova música: podemos esperar algo que vem do fundo do coração. Esta música foi inteiramente criada pelo mesmo.
Para além da música, o músico já fez teatro musical e dobragens para duas séries da Barbie (Barbie: It takes Two e Barbie: Um toque de magia).
E daqui para a frente? Quais serão os planos do cantor?
“Primeiramente, eu quero ganhar algum conteúdo meu. Vai sair o segundo single, já estou a trabalhar no terceiro. Nem sequer estou a pensar fazer concertos a solo, nem quero, não tenho conteúdo para isso. Mas quando saírem os singles e talvez um EP, aí talvez comece a pensar nisso.“
Se quiseres saber mais sobre o cantor, ouve este episódio de podcast!
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Marta Ricardo
Editado por: Diana Gaspar


Deixe um comentário