Tudo começou quando uma criança de 11 anos (Olá Lourenço!) me fez uma recomendação literária, que se tratava de um livro infantil, mais precisamente: Por sorte, o Leite, de Neil Gaiman. Não sei por que motivo fiquei tão surpresa por ter gostado de algo que outrora me entreteve: literatura “infantil”. Uso estas aspas porque agora, mais do que nunca, estou certa de que esta literatura não se dirige exclusivamente ao público mais novo.

Pensei que tinha tido uma ideia original ao querer escrever um artigo sobre o porquê de considerar relevante o consumo desta literatura. No entanto, como sempre, o pior pesadelo de uma pessoa criativa ocorreu, alguém já o tinha feito antes de mim… Decidi, portanto, juntar o útil ao agradável e expor a minha experiência com o contacto deste género literário, apoiando-me na pesquisa de entidades que têm mais recursos e credibilidade do que uma estudante de 20 anos sem bases cientificas.
Pessoalmente, encontrei na literatura infantil uma lufada de ar fresco, na medida em que no dia a dia tenho de utilizar um estilo de escrita académico, no qual cada parágrafo tem de ser justificado (com razão) com bases cientificas, não deixando grande espaço para a criatividade. No entanto, não é por termos de usar determinado género de escrita na nossa vida académica, que é proibido criar palavras e até mundos fora dela. Como pessoa criativa, que encontra prazer na escrita e no desenho, a escrita infantil tem sido mais do que essencial na minha relação com estas duas artes.

Outro beneficio que esta literatura me trouxe, foi o forte teor moralista que contém. Acredito (ou pelo menos quero acreditar), que uma grande parte de nós tem bases morais, sabemos o que é, ou não, correto fazer connosco e com os outros. No entanto, quando algum aspeto moral é esquecido, é-nos recambiado com forte violência por uma sociedade pouco compreensiva e impaciente. Às vezes precisamos que alguns conceitos nos sejam explicados como se fossemos crianças, com suavidade, no entanto com forte clareza e assertividade. Não se cingindo apenas a aspetos morais, esta literatura explica o que, por sermos adultos, temos, por vezes, receio de perguntar, tornando-se assim numa forte aliada à aprendizagem.
Desde quando é que decidimos em sociedade que ilustrações são para crianças? As deliciosas ilustrações que muitos destes livros contêm, são mais um fator que me motiva a consumir e a recomentar fortemente este tipo de leitura.

Num artigo da BBC, Katherine Rundell, autora do livro Why you should read children’s books, even though you are so old and wise e de vários livros que se inserem na vertente de literatura infantil, refere que a ficção infantil ajuda-nos a reencontrar coisas que talvez nem saibamos que tenhamos perdido. A autora também refere que os adultos, tal como as crianças, precisam de uma validação/reconhecimento de diversos sentimentos, como o medo e o fracasso, abordados neste género literário.
Num artigo da revista The Spectator ,o consumo de literatura infantil por parte dos adultos também é referido. A autora do artigo, Sadie Nicholas, refere que ler literatura infantil ajuda, por exemplo, a reduzir o stress e a libertar a nossa criatividade. Neste mesmo artigo, Sadie também relata diversos casos de amigas que viram na literatura infantil uma ferramenta para lidar com problemas de saúde e até com o luto. A autora fundamenta ainda a sua opinião com uma brilhante citação de C.S. Lewis:
“A Children’s story that can only be enjoyed by children is not a good children’s story in the slightest”
C. S. Lewis
Resta-me apenas, antes de se iniciar uma intensa época de frequências, recomendar a leitura de alguns livros “infantis” que tenho lido/relido nos últimos tempos:
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll
Por sorte, o leite, de Neil Gaiman
Avozinha Gângster, de David Walliams
O principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry
Artigos referidos :
BBC: https://www.bbc.com/culture/article/20230711-why-adults-should-read-childrens-books
The Spectator: https://www.spectator.co.uk/article/why-adults-should-read-childrens-books/
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Sofia Isidoro
Editado por: Diana Rebelo Trigueiro


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