Portugal, Euro-sub 21 e o sonho olímpico

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Começa hoje o início de mais uma edição do campeonato de Europa de sub- 21 que se realiza nos dias 21 de junho a 8 de julho, na Geórgia e na Roménia. Portugal vê, na presente edição, uma oportunidade de conquistar o tão desejado troféu e vingar as duas finais perdidas (2015 e 2021) com mais uma geração de atletas que nos pode fazer sonhar.

Para os amantes do desporto rei e da seleção portuguesa em particular, este verão antevê-se ser marcado por muito bom futebol de formação e de possíveis conquistas para a equipa das quinas. Após o término do campeonato do mundo de sub-20 (sem a presença portuguesa) e do campeonato da Europa de sub-17 (a seleção portuguesa já eliminada na fase de grupos), na Argentina e Hungria, respetivamente, a seleção portuguesa irá participar, nos próximos meses de junho e julho, nos campeonatos da Europa de sub-19 e sub-21.

Vista como a última grande competição de seleções, no que ao futebol de formação diz respeito, o campeonato da Europa de sub-21 tem sido uma verdadeira montra para muitos dos talentos emergentes por essa Europa fora e para perspetivar qual o futuro das suas respetivas seleções, tendo passado pela competição um vasto conjunto de atletas que acabariam a assumir um papel de destaque na equipa principal dos seus países. Para Portugal, a presente prova assume especial importância por dois fatores: ser a única competição de futebol de formação que nunca conquistou e por ter perdido duas, das últimas quatro finais, da competição.

Tendo já conquistado dois campeonatos da Europa sub-17 (2003 e 2016), um campeonato da Europa sub-19 (2018) e dois campeonatos do mundo sub-20 (1989 e 1991), falta juntar ao palmarés da Federação Portuguesa de Futebol esta competição, voltando a ficar ao encargo do selecionador Rui Jorge – selecionador nacional desta categoria há 13 anos – a responsabilidade de nos guiar não só a uma nova final europeia, mas também de vencer a competição.  Na história recente do percurso luso na prova, fica a campanha de 2015, onde uma equipa composta por jogadores como Bernardo Silva, Raphael Guerreiro, William Carvalho ou João Mário – uma geração onde alguns dos seus atletas acabariam por conquistar o Euro pela seleção AA no ano seguinte – conseguiu chegar à final sem derrotas, tendo, para isso, ficado em primeiro lugar num grupo composto por Itália, Inglaterra e Suécia (vencedor dessa edição) e vencido a Alemanha, pelos expressivos 5 – 0 nas meias finais, uma equipa que contava com Ter Stegen, Joshua Kimmich e Emre Can. O sonho luso nessa edição caiu por terra na final, onde, após um nulo no tempo regulamentar, acabaria por perder a final para a Suécia, de Victor Lindelof, nas grandes penalidades (4-3). 

Em 2021, a tentativa da famosa “geração 99” fazer história ao se tornar a primeira equipa a vencer o campeonato de Europa em três categorias de base distintas desvaneceu-se quando ao minuto 49 da segunda parte o avançado, e melhor marcador do torneio, Lukas Nmecha marcaria o golo que deu o terceiro título europeu à seleção alemã. No decorrer da última edição, a seleção portuguesa realizou um pleno de vitórias na fase de grupos sob a Inglaterra, Suíça e Croácia, foi a prolongamento contra a seleção italiana onde acabou por vencer por 5-3 e eliminou a vizinha Espanha com um autogolo do central Jorge Cuenca a 10 minutos do final da partida. A equipa que disputou a edição de 2021, contava com nomes como Rafael Leão, Vitinha, Jota, Dalot, Fábio Vieira, Dany Mota (melhor marcador luso no torneio com 3 golos), Diogo Costa, entre outros craques.

A presente edição realiza-se na Roménia e na Geórgia e a cidade de Batumi irá acolher a final da competição. A presente edição conta com 16 equipas divididas em 4 grupos: o grupo A composto pela anfitriã Georgia, Portugal, Holanda e Bélgica; o grupo B com Roménia, Espanha, Ucrânia e Croácia; o grupo C onde se encontra a campeã em título Alemanha, Inglaterra, Israel e a Chéquia e, por último, o grupo D que conta com Itália, França, Suíça e Noruega.

Analisando o grupo de Portugal, os comandados de Rui Jorge, irão iniciar a sua campanha, em Tiblissi, contra a Geórgia, uma seleção que se apresenta pela primeira vez nesta competição, desconhecida para a grande parte dos adeptos da modalidade, mas que pode tirar partido do fator casa e do efeito underdog para poder fazer uma surpresa. Na segunda jornada, Portugal enfrenta uma das semifinalistas na edição passada, os Países Baixos, seleção que conhece bem neste escalão, tendo estes sido seus adversários na fase de qualificação de 2021 e no play-off de acesso de 2015, e que conta com uma mistura entre talentos emergentes e jovens jogadores que já apresentam internacionalizações pela seleção AA, destacando-se os nomes de Devyne Rensch (Ajax)  Ryan Gravenberch (Bayern Munich), Kenneth Taylor (Ajax) ou Joshua Zirkzee (melhor marcador neerlandês na fase de qualificação). Após ausência na edição anterior, a Bélgica, adversário da última jornada da fase de grupos, procura sedimentar a sua posição do escalão sub 21 e fazer bem melhor que os zero pontos alcançados em 2019. Para satisfazer esse objetivo, os belgas contam com o contributo dos médios do AC Milan e do Southampton Charles De Katelaere e Romeo Lavia, e com o guarda-redes do Gent, Maarten Vandevoordt.

No grupo B, a outra anfitriã, Roménia procurará, na estabilidade defensiva de Radu Dragusin (jogador do Génova por empréstimo da Juventus), o equilíbrio necessário para poder chegar à fase a eliminar. Para esse objetivo ser alcançado, os romenos têm de ultrapassar a, cinco vezes campeã, Espanha que conta com o talento de Gabri Veiga (RC Celta do Vigo),  Sérgio Gómez (Manchester City), Álex Baena (Villareal) e Abel Ruiz (Sporting de Braga) para poder conquistar o seu sexto campeonato europeu, a Ucrânia, que ainda sonha com possível presença de Mykhailo Mudryk e a Croácia, adversário luso em 2021, que procura fazer uma surpresa semelhante à realizada na edição passada quando eliminaram a Inglaterra e alcançaram o segundo lugar no grupo onde se encontrava Portugal. Entre os 26 convocado destaque para o médio centro Luka Sucic (RB Salzburgo), o central Josip Sutalo (Dínamo Zagreb) e para o jovem médio ofensivo de 19 Gabriel Vidovic (atualmente no Vitesse por empréstimo do Bayern Munich).

Uma das máximas do futebol é que ter grandes jogadores nem sempre fazem grandes equipas, e a seleção inglesa é um claro exemplo disso mesmo. Visto como um dos crónicos favoritos à vitória no torneio, a verdade é que os three lions ficaram muito aquém, em 2021, quando foram eliminados na fase de grupos e procuram, em 2023, realizar uma campanha digna do simbolismo deste país na modalidade. Com outra geração recheada de talento, na seleção inglesa sub-21, destaca-se o nome de Morgan Gibbs-White (Nottingham Forest), Jacob Ramsey (Aston Villa), Smith-Rowe (Arsenal), Harvey Elliot e Curtis Jones (ambos atletas no Liverpool). Além da seleção inglesa, o grupo C é composto pela, também ela, crónica candidata e campeã em título Alemanha, que conta com o talento de Moukoko (Dortmund), Knauff (Eintracht Frankfurt)  Josha Vagnoman para revalidar o título; por Israel, equipa que irá realizar a terceira presença na prova (participou em 2007 e foi anfitrião em 2013) e que vê no avançado Liel Abada (avançado do Celtic) um caminho para aos quartos de final, e a Chéquia, seleção campeã europeia sub-21 em 2002, que procura inspiração na talentosa academia do Sparta de Praga e em alguns dos seus produtos, tais como Adam Karabec e Matej Kovar, para fazer um percurso que dignifique a campanha vencedora de há 21 anos atrás.

No grupo D, Itália e França apresentam-se como os favoritos a passar à próxima fase do torneio. Com uma interminável fábrica de produção de talentos, a seleção gaulesa, conta com mais uma fornada que atletas capazes que conquistar um título que foge há 35 anos, podendo ser realçado os nomes de Coqueret e Cherki (ambos no Lyon), Kalulu (AC Milan), Loic Badé (Sevilha FC) ou Enzo Le Fée, jogador do Lorient e uma das revelações da presente edição da liga francesa. Já a seleção italiana, única seleção a vencer a competição por três vezes consecutivas, vai à Roménia e à Geórgia com uma geração de futebolistas capazes de virem a fazer uma prova bastante interessante, devendo ter debaixo de olho os nomes de Sando Tonali (AC Milan), Nicoló Rovella (Monza por empréstimo da Juventus), Udogie (Udinese por empréstimo do Totenham) e Moise Kean (Juventus). Fora do plano teórico é de realçar a presença da finalista vencida em 2011, Suíça e da Noruega. Os helvéticos vão a esta fase final sob batuta do instinto goleador de Zack Amdouni (Basileia) e do central Becir Omeragic (Zurich) e os escandinavos, esperam contar com a inspiração de Jorgen Strand Larssen para contrariar o favoritismo francês e italiano. 

Até chegar a esta fase final, Portugal realizou uma qualificação quase imaculada, tendo registado nove vitórias e um empate nos 10 jogos realizados, marcando 41 golos e sofrido apenas 6. Destacam-se as goleadas por 9 e 11 a zero ao Liechtenstein, a vitórias por 6-0 e 4-0 contra o Chipre e Grécia e o triunfo, em Reykjavík, pela margem mínima contra a seleção da Islândia, equipa segunda classificada neste grupo. Ainda presente do grupo 4 de qualificação encontrava-se a seleção da Bielorrússia. 

Quando comparada com a geração de 2015 e 2021 e até mesmo com o percurso realizado até ao momento, podemos perspetivar que este conjunto de jogadores é capaz de fazer sonhar os portugueses, pois trata-se de uma equipa vasta no número de opções que apresenta para cada posição, talentosa e que permite uma rotatividade, necessária pelo desgaste da curta duração da prova, ao próprio selecionador sem que a equipa baixe o seu ritmo competitivo. Não tendo a experiência vencedora da “geração 99”, Rui Jorge tem ao seu dispor o melhor jogador do Euro 2021, Fábio Vieira, Pedro Neto, Nuno Tavares, Alexandre Pentra, Tomás Araújo, André Almeida, Tiago Dantas, Paulo Bernardo, Vasco Sousa, Samuel Costa, Samuel Soares, Francisco Conceição, Henrique Araújo, Fábio Silva, Vitinha (Vitor Oliveira) entre outros atletas, tudo dores de cabeça, face a tanto talento. Destaque ainda nesta convocatória são as ausências de Tomás Esteves, João Mário e Tiago Djaló – todos por lesão – e para a estreia de João Neves no escalão de sub-21.

Contudo, é importante deixar claro, perante o talento que dispõe e pelos objetivos a que se propôs, se a seleção deve ou não assumir o estatuto de um dos favoritos a vencer a competição, sendo também tema de debate o facto desta edição determinar qual será a representação europeia nos jogos olímpicos de 2024, em Paris. Com a já qualificação francesa (país anfitrião dos jogos) e a não presença de Inglaterra (Inglaterra faz-se representar na prova pela Grã-Bretanha), as restantes 14 seleções em prova irão disputar entre si as três vagas que asseguram uma presença olímpica no torneio masculino de futebol. Para isso, a seleção tem de chegar, pelo menos, às meias-finais da competição onde os semifinalistas vencidos disputarão um play-off olímpico, a ser jogado em Bucareste, com dia a determinar. Caso a França se encontre entre os quatro semifinalistas, as restantes três equipas estão automaticamente qualificadas, no entanto, se uma dessas equipas for Inglaterra, as outras duas equipas qualificam juntamente com o melhor equipa eliminada nos quartos de final do Euro. 

Posto isto, a seleção nacional sabe que vencer a competição significa marcar presença nos jogos olímpicos de 2024, logo deve ser levantada a seguinte questão: deve Portugal definir a presença olímpica como meta principal a ser atingida? Ou será apenas uma consequência de uma vitória europeia?

Se sim, e olhando para a frustrante campanha no Rio 2016, Rui Jorge e a FPF, tem de assegurar que os erros do passado não se voltam a cometer e garantir que o desejo de uma vitória olímpica está ao alcance da nossa seleção, mas que para isso é necessário total abertura e cooperação dos clubes para disponibilizarem os seus atletas, de modo, a que Portugal possa chegar a Paris na sua máxima força e não com uma equipa improvisada e de recurso.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Alexandre Silva

Editado por: João Fonseca

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